sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Ashram da Amma

De acordo com a definição do Wikipédia, antigamente na Índia, um ashram era um local onde sábios hindus viviam em paz e tranquilidade, no meio da natureza, para meditar e adquirir conhecimento espiritual. A palavra ashram vem do sânscrito e significa proteção.

Atualmente existem diversos ashrams na Índia, voltados especialmente para a prática de yoga. Porém, do meu ponto de vista, muitos deles perderam sua verdadeira essência e se tornaram meros negócios lucrativos, cada qual com sua “jogada de marketing”, para atrair seguidores. Para aqueles que pensam que a Índia é um país espiritualizado, sinto informar que, na verdade, os indianos são extremamente capitalistas e capazes de tentar “vender” até espiritualidade!

Após cinco meses trabalhando como voluntárias, eu e minha irmã decidimos descansar por uma semana em um ashram, não só para praticar yoga, mas porque também estávamos curiosas para conhecer um ashram na Índia.

Optamos por um ashram chamado Amritapuri, em Kerala, estado ao sul da Índia, que tem como guru (guia espiritual) Sri Mata Amritanandamayi Devi, uma indiana de 60 anos de idade, chamada popularmente de Amma (mãe), conhecida por abraçar as pessoas, com o intuito de lhes trazer conforto. Ao decorrer de sua vida, ela já abraçou mais de 30 milhões de pessoas no mundo inteiro.

Amma (foto retirada da internet)
O ashram da Amma é praticamente uma cidade e dizem ter sido construído com doações. Além de um templo, há dois edifícios, onde moram aproximadamente duas mil pessoas.

Ashram da Amma, com seu templo à esquerda (vista do meu quarto)
Há aqueles que não moram no local, mas deixam seus apartamentos disponíveis para visitantes. Eles não recebem nada por isso e o que pagamos, vai direto para o ashram. Os apartamentos são pequenos – quarto, cozinha e banheiro, porém com ducha de água fria e enferrujada. Só oferecem colchões e normalmente é necessário dividir o quarto com outras pessoas.

Prédios existentes no ashram da Amma, vistos da vila
O valor da diária é INR 250 rúpias (US$ 5 dólares), incluindo todas as refeições (cozinha indiana), que em minha opinião, não eram nem um pouco atrativas. De qualquer forma há uma cantina para estrangeiros. Era lá que comíamos e não gastávamos nem US$ 10 dólares por dia.

Dentro do complexo há também um pequeno mercado, lojas vendendo todos os tipos de souvenirs com imagens da Amma (relógios, pingentes, anéis, etc), uma sala com internet (não há wi-fi) e até mesmo piscina, que tem horários diferentes para homens e mulheres. Dentro do ashram, as pessoas não podem demonstrar sinais de afeto e as mulheres devem usar roupas que as cubram apropriadamente. Além disso, é proibido fumar e beber.

O ashram também oferece tratamentos ayurvédicos (medicina tradicional à base de ervas, desenvolvida na Índia há mais de sete mil anos). Portanto, no local há um hospital e uma farmácia. Há também massagistas e astrólogos. Havendo interesse, devem ser marcados com o máximo de antecedência, pois estão sempre com os horários lotados.

Por curiosidade, marquei uma consulta com um astrólogo indiano, por 30 minutos, no valor de US$ 12 dólares. Foi uma experiência interessante e como ele mesmo me disse, não acredite em tudo que eles falam, mas também não desacredite.

Todos os ashrams têm uma rotina, ficando a critério do visitante seguí-la ou não. Além de horário certo para café da manhã, almoço e jantar, normalmente as atividades começam a partir das cinco horas da manhã e incluem meditação, prática de yoga, cantos devocionais e trabalho voluntário, uma vez que a acomodação tem um valor simbólico e por isso, eles esperam que os visitantes também contribuam de alguma forma.

Por falar em contribuir, o ashram também possui uma ONG chamada Embracing the World (Abraçando o Mundo), através da qual apoiam a comunidade oferecendo lares para crianças de rua, idosos e inválidos, distribuição de alimentos, formação profissional, bolsas de estudos, programas de saúde pública, etc. Para quem quiser saber mais sobre a ONG, o site é: www.embracingtheworld.org.

Em um próximo post escreverei mais sobre a Amma, seu famoso abraço e sobre seus seguidores. De qualquer forma, deixo aqui o website do ashram, para aqueles que tiverem interesse. Observando que, para aqueles que estão em busca de um lugar tranquilo e acolhedor, este não é o ashram certo. O local fica mais agitado ainda com a presença da Amma.

Website internacional: www.amritapuri.org e website no Brasil: www.ammabrasil.org.





quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Sarnath, onde Buda deu seus primeiros ensinamentos

Há 12 km de Varanasi fica Sarnath, uma pequena cidade onde Siddhartha deu seus primeiros ensinamentos após atingir a iluminação, há 2520 anos atrás. Desde então ficou conhecido por seus seguidores como Buda, que significa justamente “o iluminado”.

Sarnath é também um dos quatro locais mais importantes do circuito budista - lugares por onde Buda passou e, portanto, considerados sagrados. Os outros três são:

- Lumbini, no Nepal, onde Siddhartha nasceu e morou até seus 29 anos de idade;
- Bodhgaya, no estado de Bihar, na Índia, onde Siddhartha atingiu a iluminação;
- Kushinagar, no estado de Uttar Pradesh, na Índia, onde Buda morreu.

Em apenas um dia é possível visitar todos os monumentos budistas de Sarnath. Um tuk tuk de Varanasi a Sarnath leva aproximadamente 45 minutos e custará em média INR 400 rúpias (US$ 8 dólares) para que o motorista o leve em todos os pontos turísticos.

Principais locais a serem visitados:

Mulagandhakuti Temple, templo budista construído em 1931, em homenagem a Buda, próximo à estupa Dhamekh, onde Buda deu seus primeiros ensinamentos.

Mulagandhakuti Temple
Dhamekh Stupa, estupa onde Buda deu seus primeiros ensinamentos, localizado no jardim do templo mencionado acima.

Estupas nem sempre são belos monumentos, mas funcionam como campos de energia, geradores de bênçãos. Normalmente têm o formato de uma torre cônica, representando a mente de Buda. Budistas costumam caminhar ao redor de estupas, sempre em sentido horário, entoando mantras em busca de sabedoria e purificação.

Dhamekh Stupa
Chaukhandi Stupa, estupa onde Buda reuniu seus primeiros discípulos ao chegar de Bodhgaya.

Chaukhandi Stupa
Thai Buddha Vihar, parque onde há a maior estátua do Buda na Índia, com 25 metros de altura.

Thai Buddha Vihar





segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Varanasi, a cidade mais antiga e fascinante do mundo

Chegar a Varanasi e encarar o caos indiano novamente, após um mês morando aos pés do Himalaia, foi um choque. Mas devo confessar que eu também adoro esse agito. A Índia é tudo que eu já esperava e Varanasi é tudo que eu esperava da Índia. Simplesmente fascinante e diferente de tudo que já vi na minha vida! 

Sentada nos ghats (escadarias) à beira do rio Ganges
Varanasi fica localizada no estado de Uttar Pradesh. Além de ser considerada a cidade mais sagrada da Índia é também uma das cidades mais antigas do mundo, com aproximadamente cinco mil anos. É um importante local de peregrinação e conhecida pela prática da cremação no Rio Ganges.

Cremações

Ao final de suas vidas, grande parte dos indianos escolhem Varanasi para morar, para que ali sejam cremados e suas cinzas jogadas no Ganges, rio considerado sagrado para os hindus. Eles acreditam que ao mergulhar nessas águas, eles serão purificados de seus pecados. 

Indianos se purificando nas águas do Ganges
Há inclusive aqueles que bebem desta água, acreditando que serão curados de doenças. No entanto, muitos morrem sem nem saber o motivo. A verdade é que o Ganges está entre os cinco rios mais poluídos do mundo e o ritual de cremação é um dos maiores problemas. Corpos que não são cremados corretamente são jogados por inteiro no rio, bem como animais. 

Além disso, há mais quatro tipos de corpos que os hindus não cremam por serem considerados puros: bebês, pessoas que tinham lepra, mulheres que estavam grávidas e sadhus (andarilhos que deixam tudo para trás para alcançar a libertação através da meditação). Eles amarram uma pedra ao corpo, para que o mesmo afunde. Porém, ao caminhar pelos ghats (escadarias à beira do Ganges), às vezes é possível ver “corpos estranhos” flutuando.

Sadhu
É por tudo isso que Varanasi é um lugar único e mágico. É uma cidade pequena, cheia de mistérios, encantos e desencantos. Para qualquer lado que você olhe, há algo diferente. E mesmo que você passe pelo mesmo lugar todos os dias, ainda assim haverá algo novo. 

Ghats

Caminhar pelos ghats é uma experiência à parte. A cidade foi construída com longas escadarias e paredões para evitar as enchentes causadas pela época de monções, quando chove torrencialmente e o nível do Ganges sobe consideravelmente. Para uma melhor localização, os ghats são subdividos por diferentes nomes, como se fossem “bairros”. Os principais são:

- Manikarnika e Harishchandra Ghat, onde são realizadas as cremações. Não se sinta constrangido de ir ao local para assistir uma cremação, mesmo porque há diversos turistas e os moradores locais já estão acostumados. É estritamente proibido tirar fotos. Se alguém se oferecer para guiá-lo até o local, saiba que sempre pedirão doação.

- Dasaswamedh Ghat, onde toda noite ocorre uma cerimônia chamada Ganga Aarti, um ritual religioso de adoração e oferendas a divindades.

Cerimônia Ganga Aarti
É fascinante tudo que se pode ver e sentir ao andar pelos ghats. Antigos palácios, templos, indianas com seus belos e coloridos sáris. Cheiros se misturam... cheiro da podridão à beira do Ganges, cheiro de esterco, especiarias e deliciosos incensos. 

Antigo palácio localizado no Munsighat
Homens seminus se banham sem nenhum constrangimento e aproveitam para dar banho em seus animais. 

Indianos se banhando à beira do rio Ganges
Indiano dando banho em suas vacas sagradas à beira do rio Ganges
E há aqueles que usam a água do rio para se sustentar, lavando roupas que são estendidas nos próprios degraus das escadarias. 

Indianos lavando roupas à beira do rio Ganges
Roupas estendidas nos ghats, à beira do rio Ganges
No entanto, ao caminhar pelos ghats, não se deixe enganar por estudantes que dizem ter apenas a intenção de fazer amizade e mostrar o que há de melhor em Varanasi. Tudo terá seu preço! Digo isso por experiência própria. Ninguém está ali para ser amigável ou te ajudar. Estão todos ali com um único propósito – fazer dinheiro em cima dos turistas. Quando eles veem estrangeiros, só conseguem enxergar a palavra “dólar” em suas testas.

Saiba que também será abordado por pessoas oferecendo drogas. Vi muitos turistas sentados pelos cantos, completamente desconectados da face da Terra! Não se envolva com o que não conhece. Através de moradores locais, fiquei sabendo que há drogas ali usadas, que fazem com que uma pessoa nunca mais volte ao seu estado normal. 

Outro cuidado a ser tomado é com as linhas cortantes de pipas. Crianças e adultos de Varanasi têm verdadeiro fascínio por pipas e todo dia se vê milhares delas no céu. Não houve um dia que não me enrosquei, especialmente nos pés. Por sorte, não sofri nenhum corte grave, apenas leves arranhões. Mas é bem irritante ter que andar sempre de forma atenciosa e cautelosa.

Fiquei hospedada no Alka Hotel (http://www.hotelalkavns.com/), no Meer Ghat, onde fica grande parte dos hotéis de frente para o Rio Ganges. Eu recomendo. Os quartos são meio antigos, mas limpos. 

Hotel Alka visto do rio Ganges
Além da ótima localização, o que realmente vale a estadia, é a vista. De lá, vi os mais belos nascer do sol, quando as águas do Ganges se tornam completamente douradas e cheia de barquinhos.

Nascer do sol no rio Ganges


Passeando de barco pelo rio Ganges

E por falar em barcos, este é um passeio imperdível! Ver Varanasi através dos ghats é fascinante, mas da água, é ainda mais espetacular! O passeio normalmente tem duração de uma hora e custa por volta de INR 100 rúpias por pessoa (US$ 2 dólares). Mas você também pode pegá-los como meio de transporte, para se locomover de um ghat para outro. Porém, eu repito, se prepare para ver “corpos estranhos flutuando”, eu mesma vi dois cachorros. Por sorte, não foram restos de corpos humanos.

Minha irmã e eu passeando de barco pelo rio Ganges
Old City Area

Andar pelos corredores da Old City Area, como chamam a parte antiga da cidade, também é encantador. Seus corredores estreitos são verdadeiros labirintos, por onde eu me perderia praticamente todos os dias se não fosse o senso de direção da minha irmã. 

Corredores de Varanasi
Pequenas e tentadoras lojinhas, com seus pegajosos vendedores indianos, vendem de tudo...incensos, roupas, estátuas, remédios medicinais, especiarias e o delicioso Lassi, uma bebida tradicional na Índia, à base de iogurte, que além de digestivo, também “acalma”o paladar ao comer as apimentadas comidas indianas. Através do Lonely Planet ficamos sabendo que poderíamos tomar o melhor Lassi de Varanasi, em uma loja chamada Blue Lassi, com 60 anos de tradição. 

Blue Lassi
Sempre acostumada ao copo normal de iogurte puro, batido somente com açúcar, me surpreendi ao ver um Lassi tão inovador, servidos graciosamente em cumbucas, com diferentes sabores e frutas. Mas vá sabendo que tudo é preparado à mão! A mesma mão que pega o dinheiro e sei lá o que mais. Assim é a Índia!

Lassi para todos os gostos
E por falar em bebida, não posso deixar de mencionar a torta de maçã mais deliciosa que já comi na minha vida! E olha que nunca fui fã de torta de maçã, mas esta é para comer rezando! Fica na Pizzeria Vaatika Café, no Assi Ghat. Não havia uma única pessoa no restaurante que não estivesse saboreando uma. É tão famosa, que também foi mencionada no Lonely Planet. 

Se você for à Índia, não deixe de visitar Varanasi. Fiquei quatro dias, foi o suficiente para ver tudo, mas poderia ter ficado mais. É simplesmente imperdível! 






domingo, 25 de novembro de 2012

Viajando de trem pela Índia

Sempre ouvi dizer que os trens indianos são uma loucura, mega lotados e que podem até mesmo ser perigosos. Ouvi comentários sobre mulheres que foram violentadas ao ir ao banheiro e sobre o desaparecimento de malas em viagens noturnas. 

Fiquei preocupada em viajar de trem de Delhi para Varanasi, durante 16 horas, mas ao mesmo tempo estava curiosa, pois se trata de uma experiência que eu não poderia deixar de passar. Sendo assim, comprei minha passagem e viajei em uma cabine com mais 07 pessoas, ouvindo meu iPod e usando meu laptop, completamente segura. 

Na minha frente havia um casal de indianos mais velhos que comiam com as mãos e não paravam de arrotar. Se você está na chuva, é para se molhar e se esta é a cultura do país, não resta alternativa a não ser aceitar os arrotos e aumentar o volume da música! 

Comprei minha passagem com apenas um mês de antecedência e só me restou a classe 3A, ainda assim com ar condicionado, porém, com 08 camas, sendo que duas ficam no corredor. A passagem custou aproximadamente INR 1,200.00 rúpias (US$ 24 dólares). Para muitos indianos, esse valor é alto. Portanto, não é qualquer um que tem poder aquisitivo para viajar nesta classe. 

Classe 3A, onde o encosto do sofá se torna uma terceira cama
Se você não quer viajar por longas horas, claro que há a opção de viajar de avião. Tudo depende da sua verba. A única viagem que fiz de avião foi quando tive que atravessar a Índia de norte a sul. Se optasse por trem, a viagem duraria três dias. A passagem aérea custou aproximadamente INR 10,000.00 rúpias (US$ 200 dólares) e durou cinco horas.

De qualquer forma, trens ainda são melhores do que ônibus de viagem, pois normalmente os  mesmos são muito velhos, os motoristas dirigem como loucos e buzinam a cada segundo.

Além da classe 3A, há também as classes 2A com seis camas, sendo que duas ficam no corredor e a classe 1A. As cabines das classes 2A e 3A são separadas por cortinas, que podem ser fechadas à noite para se ter mais privacidade, pois as pessoas passam pelos corredores para ir ao banheiro ou até mesmo para “dar uma voltinha”.

Por falar em banheiro, com exceção da classe 1A, todos os toilets possuem latrina. No entanto, todos os banheiros, sem exceção, fedem a urina. Para qualquer lugar que você viaje na Índia, tenha sempre papel higiênico e álcool em gel na bagagem. 

Duas camas no corredor com cortinas que separam as cabines
A classe 1A possui apenas quatro camas e a cabine tem porta, a qual é possível trancar. Também viajei na 1ª classe e custou por volta de INR 2,000.00 rúpias (US$ 40 dólares). Todas essas classes possuem ar-condicionado (por isso a letra “A”) e fornecem lençol, cobertor e travesseiro, que para minha surpresa, estavam bem limpos e cheirosos! Outras classes não possuem ar-condicionado e nem cortina. 

Classe 1A (cabines com portas e apenas 04 camas)
Dentro do trem vendem de tudo, desde salgadinhos, comiga, água e até cafézinho. A comida é servida em pequenas marmitas de alumínio. É saborosa, mas bem apimentada e me pareceu higiênica. Ao menos não passei mal, mas quase soltei fogo pela boca. Um funcionário passa perguntando se você quer almoço e jantar, os quais devem ser pagos na hora. Cada refeição custa por volta de INR 90 rúpias (menos de US$ 2 dólares).

Já os trens comuns podem sim ser uma loucura, mas em horários de pico, como qualquer outro trem de cidade grande. O trem mal espera as pessoas descerem e subirem, então os indianos se empurram violentamente. A notícia boa é que há vagões reservados somente para mulheres. Ainda assim, elas também se empurram. Um dia saí do trem praticamente arrastada, foi um verdadeiro tsunami humano.

Mesmo para trens comuns também há 1ª classe, que custa aproximadamente INR 60 rúpias (US$ 1,20 dólares) e vagões normais, custando entre 5 a 10 rúpias, dependendo do percurso.

Primeira classe de um trem comum
Vagão comum

Em qualquer parte do mundo, os cuidados ao viajar de trem devem ser sempre os mesmos - bolsas fechadas e na frente do corpo, não deixar celulares ou dinheiro em bolsos fáceis de se enfiar a mão e, em vagões com muitos homens como na Índia, ficar atenta para ninguém tentar "encostar" em você. 

A dica para viagens noturnas em trens de viagem é levar uma corrente de bicicleta, para prender a mala embaixo da cama e assim poder dormir tranquila(o). E para garantir uma viagem confortável e com ar-condicionado, compre seu bilhete sempre com mais de um mês de antecedência.

Se quiser comprar o ticket por si próprio, este é o site oficial: http://www.indianrail.gov.in/. Eu costumava comprar através de agentes de turismo, uma vez que eles sabem escolher os melhores lugares e porque achei o site de difícil navegação. A diferença de preço não é grande e às vezes compensa pagar um pouco a mais para viajar com tranquilidade.




sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Fim do meu trabalho voluntário

Depois do Quênia, a cidade de Bir foi o local que mais gostei de trabalhar como voluntária. Ensinar inglês para pequenos monges foi também um aprendizado. Eles são adoráveis, crianças como outras quaisquer, mas ao mesmo tempo parecem ser mais dóceis e gentis. Talvez porque convivam no meio budista, onde diariamente aprendem a somente praticar o bem, a tolerância e a compaixão.

Eu e minha irmã com a turma de monges do Chokling Monastery
Em Bir também conhecemos pessoas maravilhosas. Além do Dawa, coordenador do nosso projeto, e sua irmã Yeshe, havia por volta de dez voluntários na casa onde estávamos morando e dos quais nos tornamos grandes amigos.

Sentido horário - eu, Rebecca (Austrália), Chris (África do Sul), Steph (Inglaterra),
Jibin (Índia), minha irmã, Dawa (Coordenador dos voluntários) e Ione (EUA)
É sempre triste ter que dizer adeus às pessoas que adoramos conhecer, sabendo que "provavelmente" não as veremos novamente. Infelizmente assim é a vida - algumas pessoas vêem, outras vão e infelizmente poucas permanecem. Com o tempo ao menos restam as boas memórias...

É aqui que, infelizmente acaba meu trabalho voluntário, após cinco meses viajando pela África do Sul, Quênia e Índia. Foi uma experiência incrível, extremamente gratificante e inesquecível. Um aprendizado que levarei comigo para o resto da vida!

Dezembro será um mês apenas para viajar, descansar, praticar yoga e refletir antes de voltar para casa. 





quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Pintando a classe do monastério

Quando cheguei ao Chokling Monastery achei o local exuberante! Que lugar lindo e plácido, que templo colorido, localizado no meio das montanhas do Himalaia. Após trabalhar apenas em favelas, não conseguia acreditar que faria trabalho voluntário ali. 

Chokling Monastery
Porém, foi decepcionante entrar na sala de aula com suas paredes sujas e cheirando a mofo. Fiquei triste pelas crianças, pois vivem em um lugar tão lindo, mas têm aula em uma sala tão inapropriada. Foi por isso que eu e minha irmã decidimos pintar a sala de aula e trazer mais cor e alegria para a vida dos nossos pequenos monges.

As crianças nos ajudaram a retirar todos os móveis e até mesmo a lixar as paredes, quando na verdade, o que elas queriam mesmo era brincar com as tintas!

Preparando a sala de aula para pintá-la
Foi trabalhoso, pois a sala era enorme, mas felizmente pudemos contar com a ajuda do Dawa (Tibete), coordenador dos voluntários e de mais três voluntários – Chris (África do Sul), Luke (Inglaterra) e Josh (EUA).

Pintando a sala de aula
Chris, Josh, minha irmã, Luke e Dawa
Além disso, também pintamos nas paredes as letras do alfabeto e os números. Compramos um mapa-mundi e alguns pôsteres para pregar nas paredes, com bandeiras de todos os países, imagens de insetos, animais, frutas e legumes, o que deixou a sala bem mais aconchegante e com cara de sala de aula!

Pintando o alfabeto e os números na sala do monastério
Dando aula com a sala já pintada




sábado, 10 de novembro de 2012

Monte Triund, no meio do Himalaia

Antes de fazer essa viagem, eu não fazia idéia de que parte do Himalaia também atingia a Índia. Eu achava que as montanhas estavam localizadas entre o Nepal e o Tibete (China) devido ao Monte Everest (pico mais alto do mundo, com 8848 m), sendo que na verdade a cordilheira atinge cinco países: Butão, China, Paquistão, Índia e Nepal.

Apaixonada por montanhas, coincidentemente fiquei sabendo que em Dharamsala, eu poderia escalar o Monte Triund, com 2875 m, no meio do Himalaia. É claro que eu não perdi a oportunidade!

De acordo com o nosso guia Sonu, a distância até o pico é de 9 km. Iniciamos a caminhada às 08h da manhã e por volta do meio-dia chegamos ao topo. Para descer é sempre mais rápido, portanto, levamos aproximadamente 03 horas para voltar.

Eu, minha irmã e nosso guia indiano Sonu
No meio do caminho há diversas casinhas e barracas isoladas no meio do nada e seus moradores sobrevivem vendendo tchai e petiscos para os turistas que ali passam.


Cachorros nos seguem pela trilha, como se estivessem se divertindo ao caminhar ao nosso lado e de outros turistas. Além deles, também é possível ver burros de famílias locais carregando sacos pesadíssimos, provavelmente com alimentos.
 

Aos pés da montanha o tempo estava quente e ensolarado, mas ao atingir o pico, estava nublado e muito frio. A vista, como era de se esperar, é fenomenal. Eu mal podia acreditar que estava ali, no meio do Himalaia. Foi uma sensação incrível!

No meio do Himalaia
Contratamos nosso guia através de uma agência, que nos cobrou INR 900 rúpias. Estávamos em três pessoas – eu, minha irmã e nosso amigo Chris, voluntário da África do Sul. Portanto, custou INR 300 rúpias para cada (US$ 6 dólares). De qualquer forma, ele pode ser contatado diretamente pelos telefones: 9816-136-355 ou 9736-542-849.

No topo há um alojamento para pernoite. O valor da diária é de INR 500 rúpias (US$ 10 dólares), porém, é necessário levar sleeping bag e não há aquecedor. O frio é intenso!
Alojamento no topo do Monte Triund




domingo, 4 de novembro de 2012

Na borda com o Paquistão

Quem vai a Amritsar, não pode deixar de ir à Wagah Border, borda com o Paquistão, para assistir à cerimônia de fechamento de fronteiras entre os dois países, que acontece diariamente a partir das 18h00.

Fronteira Índia-Paquistão
Desde sua independência dos britânicos em 1947, a Índia perdeu parte de seu território, que acabou se tornando um novo país, o Paquistão. Por anos houve muitas guerras entre ambos os países e, apesar de atualmente conviverem de forma pacífica, até hoje parecem não aceitar muito bem o acordo.

A cerimônia é simplesmente hilária e atrai milhares de indianos e turistas todos os dias! Soldados gigantes e com cara de fanáticos marcham de um lado para o outro, abrindo tanto as pernas que chegam a acertar os joelhos em seus chapéus. Crianças desfilam com bandeiras indianas, cantando e dançando. Há inclusive um animador de platéia, incentivando-os a gritar, aplaudir e a cantar o hino indiano.

Cerimônia na Índia
Soldados indianos
Do outro lado da fronteira, no Paquistão, também acontece uma cerimônia de fechamento, como se estivessem competindo entre eles, porém, não há como assistir. Só é possível ouvir a platéia empolgada e até onde fiquei sabendo, a cerimônia é praticamente a mesma, sendo finalizada com um aperto de mãos entre os soldados indianos e paquistaneses.

Cerimônia no Paquistão
De carro leva-se aproximadamente uma hora para chegar ao local, que fica há aproximadamente 30 km de Amritsar. Não precisa nem fazer esforço para procurar um tour. Nas ruas de Amritsar há diversos motoristas indianos assediando os turistas, para levá-los até a fronteira. Ida e volta custa apenas INR 100 rúpias (US$ 2 dólares). A cerimônia dura em média uma hora e o motorista espera no local.

É proibido levar qualquer tipo de bolsa/mochila, por questões de segurança. Há locais onde é possível deixá-las, no entanto, não há armários e cadeados. São prateleiras abertas em bares e restaurantes, onde uma pessoa fica tomando conta. Tente levar apenas câmera fotográfica, celular, dinheiro e passaporte, que deve ser apresentado aos oficiais antes de acessar a arquibancada reservada somente para estrangeiros.





sábado, 3 de novembro de 2012

Golden Temple em Amritsar

No nosso primeiro final de semana livre, aproveitamos para visitar Amritsar, mais uma efervescente cidade da Índia, no estado de Punjab, há 09 horas de ônibus de Bir e onde fica o famoso Golden Temple (Templo de Ouro), o templo mais importante da religião Sikhism (siquismo em português), também conhecido como Harmandir Sahib ou Darbar Sahib (Templo de Deus).

Eu e minha irmã no Golden Temple
O Golden Temple começou a ser construído em 1574, rodeado por um grande lago artificial, chamado Amrit Sarovar (Lago de água benta ou Piscina do néctar imortal), nome este que também deu origem ao nome da cidade – Amritsar.

Vista aérea do Golden Temple (foto retirada da internet)
Os sikhs podem entrar na água para se purificar, sendo que para as mulheres há uma área fechada. Entrei nessa área e saí correndo, pois não esperava que elas estariam nuas. Senti como se estivesse invadindo a privacidade delas, mesmo tendo sido convidada para entrar na água também.
Sikhs se purificando no Lago Sagrado
Em meados de 1700, após um ataque afegão, o templo teve de ser praticamente todo reconstruído e em 1984, grande parte do complexo foi novamente atacado por indianos durante o governo de Indira Gandhi, devido a rumores de que o templo teria sido transformado em esconderijo de armas.

Aproximadamente 500 pessoas foram mortas. Tendo gerado uma grande revolta, Indira acabou sendo assassinada meses depois por um de seus seguranças da religião sikh (sique em português), que ela considerava de extrema confiança. Em 1999 a reconstrução do complexo foi concluída voluntariamente pelos próprios peregrinos.

Localizado dentro de um grande complexo, o templo em si é pequeno, mas simplesmente lindo! Internamente é riquíssimo em detalhes pintados à mão. Possui um segundo andar, para finalmente dar acesso à cobertura. Infelizmente é proibido fotografá-lo por dentro.

Golden Temple
De ouro mesmo, somente a cúpula, que tem o formato da flor de lótus invertida, símbolo de pureza espiritual. O ouro foi doado pelo marajá Ranjit Singh, durante seu reinado de 1780 a 1839, em sinal de devoção.

Tivemos a sorte de fazer amizade com um indiano que segue o Sikhism. Seu nome é Manpreet e ele foi muito gentil em andar conosco pelo templo, nos explicando tudo sobre o local e sua religião.

Manpreet e eu na entrada do complexo

Gurus do Sikhism

O Sikhism foi fundado em 1469 pelo Guru Nanak, primeiro guru da religão que acredita em Deus, carma e reencarnação.

No total, há 11 gurus, tendo sido cada um escolhido por seu antecessor, sendo que todos deveriam ter a mesma visão sobre Deus. Os gurus são considerados mestres espirituais e ao longo dos anos foram escrevendo os textos do livro sagrado do siquismo. Trata-se de um compilado de hinos religiosos, além de textos de poetas hindus e muçulmanos.

Gurus do Sikhism (imagem retirada da internet)

Antes de falecer, o 10º Guru Gobind Singh preferiu não nomear um sucessor humano, afirmando que o próprio livro sagrado deveria ser considerado como um Guru, chamado Granth Sahib.

Como reconhecer um sikh - Os Cinco Artigos da Fé

Reconhecer os sikhs entre os hindus é fácil, pois eles usam o que chamam de “Cinco Artigos da Fé”, conhecidos também como os 5k's.

Os cinco artigos da fé usados pelos siques

Os dois artigos mais populares são o turbante e a barba longa. Para prender o cabelo longo sob o turbante, eles usam um tipo de pente de madeira, uma vez que não pode ser exposto em público e que simboliza a limpeza. A partir dos 18 anos não podem mais cortar nem a barba, nem o cabelo, pois acreditam que o corpo deve ser mantido da forma como Deus nos concebeu, simbolizando poder espiritual.

Além do turbante, barba e cabelo longos, os sikhs ainda usam outros acessórios que representam sua religião – um bracelete no braço direito para evitar a prática da maldade. Ele é feito para pensar duas vezes antes de tomar qualquer atitude precipitada com as mãos e simboliza o aprendizado.

Os mais tradicionais usam um tipo de roupa de baixo, como se fosse um shorts-ceroula, para contê-los das paixões, luxúria e desejo, evitando que façam qualquer movimento errado. Simboliza a modéstia.

E por fim, há alguns homens mais velhos que ainda usam espadas na cintura, símbolo de respeito e justiça. Ela ajuda a sustentar o espírito marcial, a fim de defender a verdade e lutar para preservar os valores morais do siquismo.
Para as mulheres, é imprescindível o uso de um lenço cobrindo a cabeça / cabelo. Inclusive, para nós estrangeiros, é obrigatório o uso do lenço para entrar no complexo.

Cerimônia – Palki Sahib

Dentro do templo pudemos acompanhar a cerimônia Palki Sahib realizada às 21h30, com duração de aproximadamente 30 minutos. Sob um pequeno e ornamentado palanque, padres lêem o livro sagrado dos sikhs, chamado Guru Granth Sahib. Ao redor deles vejo muito dinheiro jogado no chão, dinheiro este doado pelos seguidores da religião.

Ao finalizar a leitura, eles embulham o livro sagrado minuciosamente em um tecido e seguem em um tipo de procissão pela ponte que liga o templo ao outro lado do complexo, para guardá-lo no Akal Takht, templo em frente ao Golden Temple, onde o parlamento sikh costuma se reunir.

Ponte que liga o Golden Temple ao Akal Takht
Akal Takht Temple, onde o livro sagrado é mantido
Encerrada a cerimônia noturna, voluntários lavam o andar térreo do templo com leite, símbolo de purificação. Ato este que me surpreende e é até mesmo contraditório, uma vez que estão desperdiçando um alimento, quando no próprio complexo há uma cozinha comunitária que serve comida 24 horas por dia.

Além disso, todas as partes douradas do templo são polidas diariamente. Quando toda a limpeza pe finalizada, o templo é reaberto a partir das 03 da madrugada, para que outra cerimônia seja realizada a partir das 05 da manhã.

Distribuição de comida gratuita

O que mais me impressionou no complexo foi visitar a cozinha comunitária, onde refeições, sobremesas e chá são oferecidos diariamente, por incessantes 24 horas, para qualquer pessoa, de qualquer religião e de qualquer status social. Grande parte das pessoas que ali trabalham são voluntários e toda a comida é comprada com o dinheiro das doações feitas pelos seguidores da religião.

Distribuição de pratos
Local onde as pessoas podem comer no Golden Temple
Uma máquina gigante de fazer chapati (um tipo de pão muito tradicional da Índia, parecido com o pão sírio) foi comprada para agilizar o trabalho dos funcionários e voluntários, a qual produz aproximadamente 6 mil chapatis por hora.

Máquina de fazer chapati
Além de oferecer refeições, o templo também permite que as pessoas durmam no complexo. Visitantes indianos de outras cidades e pertencentes à religião, trazem cobertores e dormem no chão, dividindo espaço com moradores de rua. Câmeras de segurança estão espalhadas por todo o complexo, no entanto, o templo não se responsabiliza por furtos que possam ocorrer enquanto as pessoas dormem.

Um dos corredores onde as pessoas podem dormir à noite
O que me surpreende é saber que, ao contrário da generosidade dos sikhs que aceitam pessoas de qualquer cor, credo ou classe social, até hoje os hindus se subdividem arcaica e preconceituosamente em castas, excluindo os chamados “intocáveis” da sociedade por considerá-los sujos, uma vez que são extremamente pobres e normalmente trabalham com faxina.

Castas

Por falar em castas, aproveito o assunto para descrevê-las brevemente abaixo. Se referir às pessoas de acordo com suas supostas castas se tornou ilegal na Índia, no entanto, a divisão ainda existe.

- Brahmins: classe dos padres, professores e letrados (aqueles que têm a oportunidade de estudar), representam a classe mais elevada da sociedade;

- Kshatriyas: classe dos reis e guerreiros, com poderes políticos;

- Vaishyas: classe dos comerciantes - famílias que possuem algum tipo de negócio próprio, como lojas, mercados, escolas, etc;

- Shudras: classe dos serviçais, trabalhadores braçais.

- Dalits: conhecidos como intocáveis (conforme descrito acima). Normalmente são pessoas que vivem em favelas, que pedem esmolas nas ruas, além de prostitutas e faxineiros.