terça-feira, 16 de outubro de 2012

Nossa família e o casamento indiano

Eu e minha irmã estamos morando com uma família indiana super tradicional. Sushma e Prabhat se uniram através de um casamento arranjado e estão juntos há cinco anos, sendo que só se viram duas vezes antes de se casarem.

Felizmente, hoje em dia, caso não gostem do parceiro escolhido pela família, os filhos podem falar para suas respectivas famílias e não serão obrigados a se casar. Antes de Prabhat, Sushma chegou a conhecer alguns pretendentes, mas não gostou de nenhum deles. 

Mas isso só funciona com as famílias modernas. Famílias mais tradicionais ou até mesmo mais humildes, muitas vezes já deixam os casamentos arranjados para suas filhas quando ainda são crianças. Em casos de extrema pobreza, as filhas podem ser até mesmo vendidas.

O casamento deles foi tipicamente indiano – primeiramente a família da noiva vai até a casa da família do noivo para conhecê-lo melhor e trocar presentes. Ao retornar, a irmã de Sushma lhe contou como era Prabhat - se era bonito, elegante, no que era formado, entre outros assuntos de mulheres!

Não houve pagamento de dote (dowry), mesmo porque, atualmente, pagar dote é ilegal. De qualquer forma, é a família da noiva que paga pela maior parte dos custos do casamento. Toda a preparação, inclusive a cerimônia do casamento, pode levar de 03 a 07 dias.

Algumas estatísticas interessantes:

- 30% da população ainda quer cobrar dotes caríssimos;

- 70% dos casamentos são arranjados;

- 30% dos indianos se casam por amor;

- há um índice de 0.5% de divórcio na Índia;

Sushma se casou de sari vermelho com detalhes dourados, muitas jóias e mãos e pés tatuados com henna, técnica essa chamada mehndi. O sari pode ser de outras cores, desde que provenientes do vermelho, como laranja, pink, etc.

Após o casamento, a mulher é obrigada a usar um ponto entre as sobrancelhas, mas principalmente, um ponto entre a divisão da testa e do couro cabeludo. Além disso, têm que usar um anel em cada dedo do pé (ao lado do dedão) e um brinco no nariz, que normalmente é grande, lembrando o formato de uma flor.

Já os homens não precisam usar nada. Sendo assim, não é possível identificar quando eles são casados ou não. No entanto, também conheci algumas mulheres mais modernas que não se sentem na obrigação de usar todos esses itens de uma só vez.

O ponto entre as sobrancelhas se chama bindi e simboliza a força feminina, podendo ser de qualquer cor. Já o ponto entre a divisão da testa e do couro cabeludo deve ser vermelho e se chama mang ou tikka. Acredita-se que traga proteção ao casamento e seus maridos. O bindi também pode ser usado por mulheres solteiras, como um acessório de beleza, normalmente feitos de feltro/adesivo.

Indiana com bindi entre as sobrancelhas e mang
ou tikka entre a divisão da testa e do couro cabeludo
O sari também era obrigatório para as mulheres casadas, não mais. Hoje em dia, elas usam principalmente leggings com batas, desde que cubram sempre os ombros e abaixo dos joelhos. 

O sari é um longo tecido, com formato retangular, que chega a ter até 06 metros de comprimento e é enrolado diversas vezes ao redor do corpo da mulher, expondo apenas a barriga. Trata-se realmente de uma cultura bem diferente, uma vez que no Brasil, a barriga é uma parte sensual na mulher, sendo que aqui, são os ombros.

De acordo com a tradição indiana, após o casamento, a esposa sempre vai morar com a família do marido. A mãe de Prabhat morreu há dois anos, sendo assim, atualmente eles só moram com seu pai – Jagdish. De acordo com a cultura indiana, Jagdish não pode se casar novamente, em sinal de respeito à falecida. Em seu quarto ele mantém um altar com imagens de divindades e foto de sua eterna esposa, para a qual entoa mantras todos os dias.

Bem como seu pai, Prabhat também é médico cardiologista. Todos os dias eles vão juntos ao templo, antes do trabalho. Sushma vai ao templo quando sobra um tempinho, normalmente aos domingos, pois está sempre cuidando da casa, dos filhos e dos voluntários.

Sushma é formada em Administração, estudou inclusive MBA e teve a oportunidade de trabalhar por um tempo antes de se casar. Ela até poderia continuar trabalhando se assim desejasse, mas preferiu se dedicar aos filhos.

Prabhat e Sushma têm dois filhos lindos – Samrat e Aryan, gêmeos, com quatro aninhos de idade. Ambos são adoráveis e inteligentes, mas também super sapecas e dengosos! Brincam, brigam e choram. Em seguida já estão brincando novamente, brigando e chorando. É o dia inteiro assim!

Aryan e Samrat pulando na nossa cama
Após morar com outras famílias na África do Sul e no Quênia, apenas com filhos adolescentes e que só pensavam em Facebook, tem sido uma experiência deliciosa morar com crianças pequenas. Eles têm muita energia. A casa só fica em silêncio na parte da manhã, quando eles estão na escola, e aos finais de tarde, quando eles tiram uma sonequinha. Mas é uma alegria quando estão acordados!

Eu, Jagdish (pai do Prabhat) segurando Samrat, Prabhat segurando Aryan e Sushma

Casamento indiano pode se tornar uma obsessão

Normalmente os indianos se casam entre 20 e 25 anos e infelizmente, o casamento pode se tornar até mesmo uma obsessão. Algumas mulheres se suicidam quando se tornam viúvas ou quando são abandonadas por seus maridos. E outras se suicidam quando suas filhas se casam com homens de outras nacionalidades.

Além disso, o aborto tem crescido brutalmente na Índia em virtude do pagamento do dote, que infelizmente ainda existe em regiões mais afastadas, onde vivem famílias mais antiquadas e ignorantes, no sentido de falta de estudo/educação.

Muitas mulheres abortam ao saber que estão grávidas de meninas, para justamente não terem que pagar o dote à família do noivo, quando suas filhas crescerem. Além disso, muitas mulheres são repudiadas por seus maridos se não derem a eles filhos homens. Dizem que até hoje algumas famílias as matam, queimando-as vivas.

A população indiana tem crescido aceleradamente, sendo os principais motivos: pobreza, analfabetismo e alto índice de fertilidade. Para cada habitante do mundo, seis são indianos e estudos revelam que até 2030, ultrapassarão a China.

Devido ao alto índice de abortos de fetos do sexo feminino - mais de um milhão por ano, a população masculina tem crescido demasiadamente, podendo gerar um grande problema futuramente para a Índia, como aumento da violência e da prostituição, homens não conseguirão se casar, tráfico de mulheres e até mesmo bigamia.




2 comentários:

  1. Olá! Me interesso muito pela cultura indiana e achei seu blog muito legal! Quero saber mais do dia-a-dia na Índia!

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  2. Oi Isabella,

    Estou viajando pela Índia há 02 meses e infelizmente meu laptop quebrou, por isso não atualizo meu blog há 01 mês. Estou super ansiosa, pois tenho várias novidades para contar!

    Estou em uma cidade pequena no momento, ao Norte da Índia, onde a internet mal funciona e não há técnicos para consertar meu computador.

    Em Dezembro viajo para Kerala, ao Sul da Índia, onde tentarei consertá-lo e então você poderá saber um pouco mais sobre esse país tão diferente de tudo que já vi na minha vida! :-)

    Obrigada por acompanhar meu blog!
    Claudine

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