Antes de viajar à Índia ou até
mesmo escolher um ashram, eu nunca havia ouvido falar da Amma e fiquei surpresa
ao saber que ela chegou a visitar o Brasil em 2007, dando mais de trinta mil
abraços em apenas três dias, o que é pouco comparado aos trinta milhões de abraços
que ela já distribuiu pelo mundo afora. Inclusive, ela chegou a dar abraços por 30 horas
seguidas, sem comer, sem beber e sem ir ao banheiro.
Coincidentemente, a Amma chegou
ao ashram um dia depois que eu e minha irmã chegamos e fiquei surpresa com a
forma como ela foi recebida – como uma celebridade ou até mesmo, me arrisco a
dizer, como uma santa.
Todos pararam de fazer o que
quer que estivessem fazendo para vê-la chegar em um belo Mercedez branco, carro
este que dizem ter sido doado por um de seus seguidores. Dizem também que ela
tentou vendê-lo para doar o dinheiro à ONG do ashram. Porém, o carro estava em
nome do seguidor, que não aceitou a venda do modesto presente.
Tudo começou quando ela nasceu.
“Diz a lenda” que ela nasceu azul como Shiva, um dos deuses mais adorados pelos
indianos, e imediatamente se sentou em posição de lótus (pernas cruzadas).
Desde pequena passava horas
meditando e compondo músicas devocionais. Aos nove anos de idade sua mãe
adoeceu e ela foi obrigada a parar os estudos para ajudar em casa. Saiu pelas
ruas pedindo comida e se deparou com a grande pobreza de sua comunidade. Desde
então, Amma começou a abraçar as pessoas espontaneamente para lhes trazer
conforto, mesmo em uma cultura em que uma mulher não deveria demonstrar sinais
de afeto.
Algumas pessoas dizem que seu
abraço pode fazer milagres, outras dizem não ter sentido nada. Infelizmente, eu
mesma não senti nada e para ter certeza, a abracei duas vezes.
Para chegar a ela, é necessário
pegar senha e uma longa fila. Além disso, há regras para abraçá-la: devemos apoiar
as mãos nos braços de sua cadeira, não soltar o peso do corpo sobre a Amma e
estar limpo. Na fila há pessoas de todos os tipos – seguidores que choram de
emoção, fanáticos, pessoas buscando algum tipo de iluminação ou ajuda e
curiosos, como eu.
Voluntários organizam as filas
e são extremamente grosseiros. Ao chegar perto dela, nos empurram para nos
ajoelharmos no chão, nos seguram para não largamos o peso sobre ela e nos puxam
bruscamente em questão de segundos. Eu quase caí no chão, saí de lá me sentindo
humilhada e decepcionada. Foi tudo tão rápido, que mal a vi e mal senti seu
abraço. Fora que foi impossível entender o que ela sussurrou no meu ouvido, provavelmente
algum tipo de mantra.
Para desfazer essa má imagem, resolvi
receber o abraço pela segunda vez e passei exatamente pela mesma situação. Para
mim, não passou de um abraço superficial e mecânico.
Fiquei indignada com a forma
que seus seguidores tratam os visitantes, não somente na fila para abraçá-la, mas
no dia-a-dia no ashram. Muitos deles foram rudes não só comigo e com a minha
irmã, mas com outras pessoas que fui fazendo amizade. Acho que se esquecem do real
motivo pelo qual estão ali.
Após abraçá-la, também fiquei
curiosa para assistir aos cantos devocionais. Não se atreva a abrir a boca para
falar com alguém ao seu lado, pois sempre há um seguidor para te mandar calar a
boca de forma nada educada (aliás, não se atreva a fazer um movimento errado em nenhum momento). As pessoas cantam, vibram e lançam seus braços para
os ares em uma espécie de transe e fazem isso por aproximadamente duas horas.
Durante os cantos, a luz é
cortada em todas as acomodações, das 18 às 20h. Dizem que é para economizar
energia. Porém, em minha opinião, mais parece uma forma de fazer com que todos
se encaminhem para o salão principal, para cantar mantras também.
Foi uma experiência no mínimo
interessante ver tamanha idolatria e me atrevo a dizer até mesmo tamanho fanatismo.
Alguns a tratam como se ela fosse uma santa, uma divindade. Sim, ela ajuda
muitas pessoas no mundo inteiro através de doações, mas há quem diga também que
ela enriqueceu às custas destas mesmas doações.
Enfim, fica a critério de cada
visitante tirar suas próprias conclusões. Aqui eu descrevi as minhas experiências, mas respeito as crenças
alheias. Afinal, o que realmente importa é que as pessoas se encontrem e sejam
felizes com suas escolhas espirituais.
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