terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Recebendo o abraço da Amma

Antes de viajar à Índia ou até mesmo escolher um ashram, eu nunca havia ouvido falar da Amma e fiquei surpresa ao saber que ela chegou a visitar o Brasil em 2007, dando mais de trinta mil abraços em apenas três dias, o que é pouco comparado aos trinta milhões de abraços que ela já distribuiu pelo mundo afora. Inclusive, ela chegou a dar abraços por 30 horas seguidas, sem comer, sem beber e sem ir ao banheiro.

Coincidentemente, a Amma chegou ao ashram um dia depois que eu e minha irmã chegamos e fiquei surpresa com a forma como ela foi recebida – como uma celebridade ou até mesmo, me arrisco a dizer, como uma santa.

Todos pararam de fazer o que quer que estivessem fazendo para vê-la chegar em um belo Mercedez branco, carro este que dizem ter sido doado por um de seus seguidores. Dizem também que ela tentou vendê-lo para doar o dinheiro à ONG do ashram. Porém, o carro estava em nome do seguidor, que não aceitou a venda do modesto presente.

Tudo começou quando ela nasceu. “Diz a lenda” que ela nasceu azul como Shiva, um dos deuses mais adorados pelos indianos, e imediatamente se sentou em posição de lótus (pernas cruzadas).

Desde pequena passava horas meditando e compondo músicas devocionais. Aos nove anos de idade sua mãe adoeceu e ela foi obrigada a parar os estudos para ajudar em casa. Saiu pelas ruas pedindo comida e se deparou com a grande pobreza de sua comunidade. Desde então, Amma começou a abraçar as pessoas espontaneamente para lhes trazer conforto, mesmo em uma cultura em que uma mulher não deveria demonstrar sinais de afeto.

Algumas pessoas dizem que seu abraço pode fazer milagres, outras dizem não ter sentido nada. Infelizmente, eu mesma não senti nada e para ter certeza, a abracei duas vezes.

Para chegar a ela, é necessário pegar senha e uma longa fila. Além disso, há regras para abraçá-la: devemos apoiar as mãos nos braços de sua cadeira, não soltar o peso do corpo sobre a Amma e estar limpo. Na fila há pessoas de todos os tipos – seguidores que choram de emoção, fanáticos, pessoas buscando algum tipo de iluminação ou ajuda e curiosos, como eu.

Voluntários organizam as filas e são extremamente grosseiros. Ao chegar perto dela, nos empurram para nos ajoelharmos no chão, nos seguram para não largamos o peso sobre ela e nos puxam bruscamente em questão de segundos. Eu quase caí no chão, saí de lá me sentindo humilhada e decepcionada. Foi tudo tão rápido, que mal a vi e mal senti seu abraço. Fora que foi impossível entender o que ela sussurrou no meu ouvido, provavelmente algum tipo de mantra.

Para desfazer essa má imagem, resolvi receber o abraço pela segunda vez e passei exatamente pela mesma situação. Para mim, não passou de um abraço superficial e mecânico.

Fiquei indignada com a forma que seus seguidores tratam os visitantes, não somente na fila para abraçá-la, mas no dia-a-dia no ashram. Muitos deles foram rudes não só comigo e com a minha irmã, mas com outras pessoas que fui fazendo amizade. Acho que se esquecem do real motivo pelo qual estão ali.

Após abraçá-la, também fiquei curiosa para assistir aos cantos devocionais. Não se atreva a abrir a boca para falar com alguém ao seu lado, pois sempre há um seguidor para te mandar calar a boca de forma nada educada (aliás, não se atreva a fazer um movimento errado em nenhum momento). As pessoas cantam, vibram e lançam seus braços para os ares em uma espécie de transe e fazem isso por aproximadamente duas horas.

Durante os cantos, a luz é cortada em todas as acomodações, das 18 às 20h. Dizem que é para economizar energia. Porém, em minha opinião, mais parece uma forma de fazer com que todos se encaminhem para o salão principal, para cantar mantras também.

Foi uma experiência no mínimo interessante ver tamanha idolatria e me atrevo a dizer até mesmo tamanho fanatismo. Alguns a tratam como se ela fosse uma santa, uma divindade. Sim, ela ajuda muitas pessoas no mundo inteiro através de doações, mas há quem diga também que ela enriqueceu às custas destas mesmas doações.

Enfim, fica a critério de cada visitante tirar suas próprias conclusões. Aqui eu descrevi as minhas experiências, mas respeito as crenças alheias. Afinal, o que realmente importa é que as pessoas se encontrem e sejam felizes com suas escolhas espirituais.





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