sábado, 3 de novembro de 2012

Golden Temple em Amritsar

No nosso primeiro final de semana livre, aproveitamos para visitar Amritsar, mais uma efervescente cidade da Índia, no estado de Punjab, há 09 horas de ônibus de Bir e onde fica o famoso Golden Temple (Templo de Ouro), o templo mais importante da religião Sikhism (siquismo em português), também conhecido como Harmandir Sahib ou Darbar Sahib (Templo de Deus).

Eu e minha irmã no Golden Temple
O Golden Temple começou a ser construído em 1574, rodeado por um grande lago artificial, chamado Amrit Sarovar (Lago de água benta ou Piscina do néctar imortal), nome este que também deu origem ao nome da cidade – Amritsar.

Vista aérea do Golden Temple (foto retirada da internet)
Os sikhs podem entrar na água para se purificar, sendo que para as mulheres há uma área fechada. Entrei nessa área e saí correndo, pois não esperava que elas estariam nuas. Senti como se estivesse invadindo a privacidade delas, mesmo tendo sido convidada para entrar na água também.
Sikhs se purificando no Lago Sagrado
Em meados de 1700, após um ataque afegão, o templo teve de ser praticamente todo reconstruído e em 1984, grande parte do complexo foi novamente atacado por indianos durante o governo de Indira Gandhi, devido a rumores de que o templo teria sido transformado em esconderijo de armas.

Aproximadamente 500 pessoas foram mortas. Tendo gerado uma grande revolta, Indira acabou sendo assassinada meses depois por um de seus seguranças da religião sikh (sique em português), que ela considerava de extrema confiança. Em 1999 a reconstrução do complexo foi concluída voluntariamente pelos próprios peregrinos.

Localizado dentro de um grande complexo, o templo em si é pequeno, mas simplesmente lindo! Internamente é riquíssimo em detalhes pintados à mão. Possui um segundo andar, para finalmente dar acesso à cobertura. Infelizmente é proibido fotografá-lo por dentro.

Golden Temple
De ouro mesmo, somente a cúpula, que tem o formato da flor de lótus invertida, símbolo de pureza espiritual. O ouro foi doado pelo marajá Ranjit Singh, durante seu reinado de 1780 a 1839, em sinal de devoção.

Tivemos a sorte de fazer amizade com um indiano que segue o Sikhism. Seu nome é Manpreet e ele foi muito gentil em andar conosco pelo templo, nos explicando tudo sobre o local e sua religião.

Manpreet e eu na entrada do complexo

Gurus do Sikhism

O Sikhism foi fundado em 1469 pelo Guru Nanak, primeiro guru da religão que acredita em Deus, carma e reencarnação.

No total, há 11 gurus, tendo sido cada um escolhido por seu antecessor, sendo que todos deveriam ter a mesma visão sobre Deus. Os gurus são considerados mestres espirituais e ao longo dos anos foram escrevendo os textos do livro sagrado do siquismo. Trata-se de um compilado de hinos religiosos, além de textos de poetas hindus e muçulmanos.

Gurus do Sikhism (imagem retirada da internet)

Antes de falecer, o 10º Guru Gobind Singh preferiu não nomear um sucessor humano, afirmando que o próprio livro sagrado deveria ser considerado como um Guru, chamado Granth Sahib.

Como reconhecer um sikh - Os Cinco Artigos da Fé

Reconhecer os sikhs entre os hindus é fácil, pois eles usam o que chamam de “Cinco Artigos da Fé”, conhecidos também como os 5k's.

Os cinco artigos da fé usados pelos siques

Os dois artigos mais populares são o turbante e a barba longa. Para prender o cabelo longo sob o turbante, eles usam um tipo de pente de madeira, uma vez que não pode ser exposto em público e que simboliza a limpeza. A partir dos 18 anos não podem mais cortar nem a barba, nem o cabelo, pois acreditam que o corpo deve ser mantido da forma como Deus nos concebeu, simbolizando poder espiritual.

Além do turbante, barba e cabelo longos, os sikhs ainda usam outros acessórios que representam sua religião – um bracelete no braço direito para evitar a prática da maldade. Ele é feito para pensar duas vezes antes de tomar qualquer atitude precipitada com as mãos e simboliza o aprendizado.

Os mais tradicionais usam um tipo de roupa de baixo, como se fosse um shorts-ceroula, para contê-los das paixões, luxúria e desejo, evitando que façam qualquer movimento errado. Simboliza a modéstia.

E por fim, há alguns homens mais velhos que ainda usam espadas na cintura, símbolo de respeito e justiça. Ela ajuda a sustentar o espírito marcial, a fim de defender a verdade e lutar para preservar os valores morais do siquismo.
Para as mulheres, é imprescindível o uso de um lenço cobrindo a cabeça / cabelo. Inclusive, para nós estrangeiros, é obrigatório o uso do lenço para entrar no complexo.

Cerimônia – Palki Sahib

Dentro do templo pudemos acompanhar a cerimônia Palki Sahib realizada às 21h30, com duração de aproximadamente 30 minutos. Sob um pequeno e ornamentado palanque, padres lêem o livro sagrado dos sikhs, chamado Guru Granth Sahib. Ao redor deles vejo muito dinheiro jogado no chão, dinheiro este doado pelos seguidores da religião.

Ao finalizar a leitura, eles embulham o livro sagrado minuciosamente em um tecido e seguem em um tipo de procissão pela ponte que liga o templo ao outro lado do complexo, para guardá-lo no Akal Takht, templo em frente ao Golden Temple, onde o parlamento sikh costuma se reunir.

Ponte que liga o Golden Temple ao Akal Takht
Akal Takht Temple, onde o livro sagrado é mantido
Encerrada a cerimônia noturna, voluntários lavam o andar térreo do templo com leite, símbolo de purificação. Ato este que me surpreende e é até mesmo contraditório, uma vez que estão desperdiçando um alimento, quando no próprio complexo há uma cozinha comunitária que serve comida 24 horas por dia.

Além disso, todas as partes douradas do templo são polidas diariamente. Quando toda a limpeza pe finalizada, o templo é reaberto a partir das 03 da madrugada, para que outra cerimônia seja realizada a partir das 05 da manhã.

Distribuição de comida gratuita

O que mais me impressionou no complexo foi visitar a cozinha comunitária, onde refeições, sobremesas e chá são oferecidos diariamente, por incessantes 24 horas, para qualquer pessoa, de qualquer religião e de qualquer status social. Grande parte das pessoas que ali trabalham são voluntários e toda a comida é comprada com o dinheiro das doações feitas pelos seguidores da religião.

Distribuição de pratos
Local onde as pessoas podem comer no Golden Temple
Uma máquina gigante de fazer chapati (um tipo de pão muito tradicional da Índia, parecido com o pão sírio) foi comprada para agilizar o trabalho dos funcionários e voluntários, a qual produz aproximadamente 6 mil chapatis por hora.

Máquina de fazer chapati
Além de oferecer refeições, o templo também permite que as pessoas durmam no complexo. Visitantes indianos de outras cidades e pertencentes à religião, trazem cobertores e dormem no chão, dividindo espaço com moradores de rua. Câmeras de segurança estão espalhadas por todo o complexo, no entanto, o templo não se responsabiliza por furtos que possam ocorrer enquanto as pessoas dormem.

Um dos corredores onde as pessoas podem dormir à noite
O que me surpreende é saber que, ao contrário da generosidade dos sikhs que aceitam pessoas de qualquer cor, credo ou classe social, até hoje os hindus se subdividem arcaica e preconceituosamente em castas, excluindo os chamados “intocáveis” da sociedade por considerá-los sujos, uma vez que são extremamente pobres e normalmente trabalham com faxina.

Castas

Por falar em castas, aproveito o assunto para descrevê-las brevemente abaixo. Se referir às pessoas de acordo com suas supostas castas se tornou ilegal na Índia, no entanto, a divisão ainda existe.

- Brahmins: classe dos padres, professores e letrados (aqueles que têm a oportunidade de estudar), representam a classe mais elevada da sociedade;

- Kshatriyas: classe dos reis e guerreiros, com poderes políticos;

- Vaishyas: classe dos comerciantes - famílias que possuem algum tipo de negócio próprio, como lojas, mercados, escolas, etc;

- Shudras: classe dos serviçais, trabalhadores braçais.

- Dalits: conhecidos como intocáveis (conforme descrito acima). Normalmente são pessoas que vivem em favelas, que pedem esmolas nas ruas, além de prostitutas e faxineiros.





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